Periferia sem fake – 2024/2025

O edital Periferia Sem Fake 2024/2025 selecionou 13 iniciativas locais, com diferentes abordagens, estratégias e públicos, para o enfrentamento à desinformação. Os projetos contemplados foram apoiados com recursos e tutoria para serem implementadas pelos seus proponentes.

Fakes que mudam vidas

O ambiente que tem propiciado o aumento da desinformação em nossas sociedades tem efeitos ainda mais perversos nos contextos escolares, onde crianças e adolescentes ainda em formação são vítimas do uso de fake news e deepfakes como estratégia de bullying, ocasionando sérios problemas para o desenvolvimento pessoal e autoestima. Diante desse problema, a Associação MA de dança, localizada na Pedreira Prado Lopes, Belo Horizonte-MG, coordenada pelo professor de dança Marcos Antônio Alves de Lima, se inscreveu no edital Periferia Sem Fake com o objetivo de tematizar essas questões com os alunos e alunas do ensino fundamental através da dança e do entretenimento. A ação consistiu no desenvolvimento, junto a uma turma de 21 estudantes, de um espetáculo de dança acompanhado de palestras e dinâmicas com o objetivo de conscientizar os estudantes sobre o cuidado necessário para avaliar e ao  disseminar informações recebidas sobre outras pessoas. Os 21 estudantes fizeram, junto dos educadores, uma pesquisa de dois meses sobre o tema para a construção do espetáculo e, ao final, foram feitas apresentações de dança em cinco escolas locais. 

Circula Libras

O Circula Libras é uma instituição localizada em Ribeirão das Neves-MG, cuja missão é  fortalecer e gerar acessibilidade e inclusão na comunidade surda.  A partir do edital Periferia Sem Fake, o Instituto chamou a atenção para o fato de que, embora no Brasil haja pouca acessibilidade de informações em LIBRAS sobre políticas públicas, direitos sociais e democracia, o que compromete a plena cidadania de milhões de surdos e surdas no país, há uma circulação ampla de desinformações em LIBRAS produzidas pela extrema-direita. Diante disso, o instituto produziu, com apoio do Observatório, cinco mini documentários em LIBRAS abordando os temas da cidadania, da democracia e da desinformação com o objetivo de promover a acessibilidade e a inclusão, com foco especial na comunidade surda, a partir de materiais informativos e contra-desinformativos acessíveis. 


Conecta Cabana

A circulação da desinformação em territórios periféricos se encontra e se amplifica com um problema histórico das periferias brasileiras: a falta de representatividade e de protagonismo dos sujeitos periféricos em todo o processo de produção de conteúdo, gerando imagens estereotipadas e preconceituosas sobre as favelas. O projeto Conecta Cabana é um portal de jornalismo comunitário feito por moradores da maior favela de Belo Horizonte, a Cabana do Pai Tomás. O objetivo é fazer a cobertura dos acontecimentos do território a partir de uma perspectiva dos próprios moradores, instigando a reflexão sobre a circulação de notícias falsas no território e o uso mais reflexivo e atento das informações recebidas. Para além do apoio direto ao portal e fomento ao enfrentamento à desinformação, o Conecta desenvolveu, em um segundo ciclo com o Periferia Sem Fake, uma formação junto a dez jovens do território, voltada a ensinar métodos para checagem de informações e técnicas para a produção de vídeos combatendo as fake-news. O material está disponível nas redes sociais do projeto. 

Escola Sem Fake 

O diálogo com os adolescentes a respeito dos riscos das mídias sociais e da desinformação tem representado um grande desafio para as instituições. O Escola Sem Fake é um projeto realizado diretamente por jovens do movimento estudantil para esse fim junto aos grêmios estudantis. O objetivo do projeto foi utilizar a conscientização juvenil como uma ferramenta estratégica para combater a desinformação em seis escolas estaduais no ensino médio em Belo Horizonte. Isso foi feito através de oficinas de fact-checking sobre a desinformação eleitoral, aliada a uma oficina de produção de vídeos sobre o tema. O projeto revelou uma abertura dos estudantes a conversar sobre o tema através dos grêmios e provocou as organizações estudantis envolvidas a pensar uma continuidade dessa agenda em suas pautas. Chegou a ser levado para a Bienal da União Nacional dos Estudantes- UNE em Janeiro e tem planos de ampliação em um futuro próximo.  

Clã das Lobas

O Coletivo Clã das Lobas é um movimento formado por trabalhadoras sexuais cis e trans que atuam na defesa de direitos, no combate ao estigma e na promoção da autonomia e segurança das mulheres profissionais do sexo. Através do Periferia Sem Fake, o Clã das Lobas se debruçou na produção e na distribuição da revista “Lobas em Ação”, voltada a combater a desinformação sobre ISTs junto a trabalhadoras sexuais em Belo Horizonte, em especial na região da Guaiurus. A ação aposta em uma comunicação direta de trabalhadora para trabalhadora, seja no texto das cartilhas, seja na distribuição e nas rodas de conversa realizadas. Foram distribuidas até o momento mil cartilhas. 

Kamugenan 

O Kamugenan é um projeto formado para o edital Periferia Sem Fake voltado a enfrentar a desinformação relacionada ao racismo religioso. Embora a desinformação em massa tenha crescido muito nos últimos anos, ela se ancora em preconceitos e violências estruturais da nossa sociedade, como é o caso de diversos materiais que atacam, deturpam e condenam as religiões de Matriz Africana. O Kamugenan foi dirigido por Washington, que, além de jornalista, é Tateto de candomblé, e contou também com dois MCs. As ações realizadas foram dois episódios de podcast na revista SENSO, voltada à ciência da religião, e duas ações territoriais em uma escola no bairro Icaivera, em Betim-MG: uma roda de conversa e uma batalha do conhecimento. 

 

Jornal O Observador 

O Centro Comunitário do Taquaril, com apoio do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos-MTD, organizou, através do Periferia Sem Fake, um jornal informativo com o foco em combater a desinformação relacionada ao direito à cidade, em especial o direito à moradia.  

O jornal teve, até o momento, duas edições, e tem circulado por vários Núcleos de Moradia do Minha Casa Minha Vida, por associações comunitárias e movimentos sociais voltados ao tema. Além disso, foram feitos dois vídeos, disparados para mais de 1500 pessoas em grupos de whatsapp de beneficiários da política habitacional de Belo Horizonte.  

 

Projeto Ully

O combate a desinformação é especialmente desafiador quando toca em temas delicados como a violência contra a mulher. Abordar esse tema e garantir o acesso de mulheres a informação confiável sobre as políticas de proteção das mulheres, sobre a Lei Maria da Penha exige muito cuidado e confiança. Para isso, o Projeto Ully, através do Acorda Menina, realizou encontros com mulheres no Morro das Pedras (Belo Horizonte) e em Funilândia (Sete Lagoas) para abordar esse tema de forma sutil e criar uma rede de proteção junto a essas mulheres.  

 


Desmistificando Benefícios Sociais

A desinformação tem se mostrado um grande obstáculo no acesso da população à direitos, em especial aos benefícios sociais. Pensando nisso, o Centro de Defesa Coletiva do Morro do Papagaio organizou uma campanha passando por todas as vilas do morro divulgando informações confiáveis sobre os benefícios sociais e promovendo o acesso da população a uma ferramenta inovadora nessa luta: a Inteligência Artificial Ju do Bolsa, que responde às dúvidas da população sobre o tema com informações seguras e acessíveis.  

Instituto Cultural Semifusa 

Sem dúvida um importante aliado no enfrentamento da desinformação em territórios periféricos é o jornalismo independente. O portal ribeiraodasneves.net é organizado pela Casa Semifusa é uma grande referência de comunicação independente de Ribeirão das Neves e, com o apoio do Periferia Sem Fake, eles desenvolveram um portal de checagem de notícias voltado para temas de interesse da cidade, além da realização de dois episódios de podcast com especialistas no tema.  


Quebrada sem caô

O Coletivo Balaio, através do Periferia Sem Fake, organizou uma formação estratégia cem comunicação e política para cinco jovens na Favela da Mina, em Ribeirão das Neves, para fomentar o combate à desinformação a partir de vozes locais. Foi discutido o funcionamento da política, os impactos na Favela da Mina e foram feitas também intervenções urbanas sobre a temática para fomentar a discussão sobre isso a nível local.  

Agentes Populares de Combate à Desinformação

O Núcleo Mariano de Abreu do Movimento Brasil Popular se propôs a unir outras ações pela cidadania que realizavam no território ao enfrentamento à desinformação. Organizaram então seis edições do Xô Falar Procê, onde aliavam, entre outras coisas, a distribuição de marmitas na cozinha solidária a rodas de conversa sobre temas alvo de desinformação e à distribuição de materiais de contra-desinformação. Além disso, na Festa Junina da Escola local realizaram jogos e brincadeiras sobre o tema junto à população local.  

Rima Viva Hip Hop Crew 

Rima Viva Hip Hop Crew é um coletivo voltado a promover e valorizar a cultura do Hip Hop e, através do Break, do Grafitti, da Rima, do Rítimo e do Zine, fizeram um dia inteiro de intensas atividades culturais em uma escola na região do Barreiro, em Belo Horizonte. A ação atingiu cerca de 300 crianças e foi condensada em um zine distribuído para toda a comunidade escolar.  

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