A desinformação é uma ameaça ao Estado de Direito, à construção de políticas públicas e às instituições democráticas, pois o debate público vem sendo fortemente influenciado por informações falsas, que radicalizam discursos, desviam a esfera pública do discurso factual e científico e interferem no desenvolvimento de políticas.
As soluções para combater a desinformação, portanto, precisam ir além da construção de métodos de checagem. É preciso ressignificar a educação midiática e investir na pluralização de referências, sobretudo aquelas que também trazem laços de familiaridade e identidade. Nesse sentido, acreditamos que fomentar a comunicação comunitária, aliada à formação crítica de lideranças periféricas e de grupos sociais vulneráveis, é fundamental.
Desde 2021 – no contexto da pandemia de COVID-19, das vacinas de imunização ao coronavírus, dos métodos de prevenção à doença e da desinformação generalizada sobre programas e benefícios governamentais de apoio emergencial – vinham sendo acompanhados pela AIC – Agência de Iniciativas Cidadãs, por intermédio de seus projetos Periferia Viva e Comunidade Viva Sem Fome, relatos de lideranças comunitárias, jovens e outros moradores de comunidades periféricas que traziam experiências envolvendo o enfrentamento das fake news.
Tais experiências mostraram que associar o combate à desinformação às lideranças locais, envolvendo pessoas jovens e líderes mais consolidados, permite gerar familiaridade e identificação entre a produção construída para o combate às notícias falsas e as comunidades locais. Isso se dá tanto pelo uso de elementos próprios de cada espaço, como gírias, quanto pelo alinhamento dos conteúdos à percepção de mundo das pessoas dessas comunidades, compartilhadas por meio de elementos simbólicos que atravessam a cultura, a história e o dia-a-dia da periferia.
Ou seja, mais do que a mídia tradicional, uma produção construída localmente consegue efetivamente traduzir e levar informações qualificadas, em linguagem acessível, para as periferias.
Assim sendo, buscando fomentar iniciativas de mobilização pelo enfrentamento à desinformação a partir desse forte aspecto identitário, que é o local de origem/habitação e a comunidade, surge o Dá Ideia. O grupo é formado por núcleos locais de combate à desinformação em comunidades periféricas da RMBH que ligados, nas consequências da circulação de notícias falsas nos territórios, constroem juntos materiais de contra-desinformação e os compartilham em suas comunidades e redes sociais.
O Observatório Participativo da Desinformação é o espaço de sistematizar, articular e fortalecer toda a experiência do Dá Ideia com outros parceiros e territórios de Minas Gerais. Por meio da troca dessa rede participativa, o Observatório visa reunir a investigação dos modos coletivos, colaborativos e criativos de combater a desinformação e contribuir para a criação de novos modos de se enfrentar o problema, promovendo a cidadania em territórios periféricos.