Seminário Desinformação e Território: Compartilhando pesquisa e práticas de enfrentamento à desinformação  

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Nos dias 26 e 27 de agosto de 2025, o Observatório Participativo da Desinformação realizou o Seminário Desinformação e Território: estratégias comunitárias de enfrentamento.  O evento foi pensado para reunir discussões que têm permeado nossa experiência e celebrar os dois anos de atuação do projeto,que está presente em diversos territórios da região metropolitana de Belo Horizonte.  

Foram quatro mesas, atividades artísticas e convidados especialistas do contexto acadêmico e referências comunitárias com as quais trabalhamos. O seminário reuniu em dois dias um público de mais de cem pessoas, debatendo a transversalidade da desinformação nos territórios com enfoques variados. A data também marcou o lançamento da revista Observatório Participativo da Desinformação: Escuta, participação e modos de enfrentamento da desinformação.  

Como reunir e compartilhar nossa experiência? 

Um dos maiores desafios do Observatório é construir maneiras de conversar com públicos diversos ao mesmo tempo. Neste evento, não foi diferente. Para compartilhar a experiência de atuação do projeto nos últimos dois anos, buscamos: 

  • Construir um espaço de troca entre pesquisadores acadêmicos e referências comunitárias, associando os associando as pesquisas da universidade com os saberes e práticas das experiências territoriais durante os debates; 
  • Trazer a importância das práticas artísticas enquanto uma maneira de ampliar a discussão e ajudar no engajamento do enfrentamento à desinformação com diversos públicos; 
  • Estar em espaços que foram parte da história do Observatório nos dois últimos anos, reunindo pessoas que também ajudaram a construí-lo. 

Mesa 1: Enfrentamento Territorializado da Desinformação 

 

O primeiro dia de Seminário aconteceu no Centro de Referência das Juventudes – CRJ, no centro de Belo Horizonte. Este espaço foi palco da formação dos jovens do Dá Ideia no primeiro ano de atuação do Observatório e, por isso, entendemos que seria um local simbólico para o lançamento da cartilha do projeto.  

Começamos as discussões com o  tema central que orientou o trabalho do Observatório: o enfrentamento localizado da desinformação. Fábia Lima (UFMG), Ednéia Aparecida (MNLM), Monge (Batalha Griot), mediados por Manu São Pedro (AIC). debateram diferentes formas de enfrentamento à desinformação nos territórios. Foi dado destaque para a importância da construção das redes de confiança a partir das referências comunitárias em contextos diversos, como no movimento Hip Hop, no contexto da luta por moradia e no combate à desinformação junto aos jovens universitários, ressaltando o papel da Universidade Pública para lidar com esse problema na sociedade.  

A conversa trouxe a importância de se usar diferentes mídias e hackear ferramentas de disseminação da desinformação para barrá-la, assim como a importância da pesquisa e do diálogo para ampliar o enfrentamento, adaptando e reproduzindo técnicas e práticas em outros territórios. Os convidados falaram da relação entre a falta de memória das lutas e a desinformação, que faz com que jovens reproduzam práticas hoje sem considerar toda a construção já realizada pelos movimentos sociais e culturais da cidade.  

Mesa 2: As redes e as ruas – Fortalecer a comunicação comunitária para enfrentar a desinformação. 

Para abrir o segundo dia de Seminário, sediado na UFMG, trouxemos o tema da comunicação comunitária. Fundamental para sedimentar as redes de confiança dentro dos territórios, a comunicação comunitária hoje acontece em meios presenciais e digitais.  

Warley Bombi (Periferia que Fala), Letícia Cesarino (UFSC), Lorrayne Batista (Conecta Cabana) e Ricardo Fabrino (UFMG) debateram temas como a circulação territorializada e cotidiana da desinformação, a velocidade e o volume de desinformações que atinge quem vive nos territórios periféricos, os desafios que enfrentam os comunicadores locais e a importância de uma comunicação que une  meios digitais e contato presencial, criada a partir da originalidade e inventividade de quem está nos territórios. Destacou-se também que a potência do vínculo territorial para que a comunicação vá além da produção e distribuição de conteúdos contra a desinformação e sirvam também para a construção de relações de confiança com os públicos que podem enfraquecer as redes e a vulnerabilidade à desinformação. 

Mesa 3: Desinformação e Religião    

Os atravessamentos da desinformação no campo religioso foram o tema dessa mesa, discutido por representantes de diferentes religiões. Roju Soares (ECOAR) mediou a conversa entre Padre Mauro (Muquifu), Patrícia Santos (pastora da Comuna do Reino), Josué Gomes (UFMG) e Luciana Oliveira (UFMG). Toda essa pluralidade permitiu um debate sobre as especificidades da relação da religião com a desinformação em cada contexto.  O fundamentalismo religioso cristão foi destacado como central na disseminação de desinformações sobre religiões de Matriz Africana e Indígena, que frequentemente resultam em violências diretas a terreiros, cerimônias indígenas e líderes não cristãos.  

Mesa 4: Desinformação, comunicação pública e acesso a direitos 

A desinformação como fator dificultador do acesso a direitos é um tema que aparece recorrentemente nas escutas feitas pelo Observatório. Para encerrar os debates do evento, trouxemos representantes que atuam diretamente nesta temática. A mesa foi mediada por Tiago Toth (Aneduc), que também foi monitor do Núcleo de Criação do Observatório. Elaine Pinheiro (CDC Morro do Papagaio), Vanessa Veiga (UFMG) e Lília Gomes (ABCPublica) compartilharam diferentes ferramentas, da inteligência artificial à comunicação comunitária, para refletir sobre  essa questão.  

As potencialidades e dificuldades que temos hoje na comunicação pública e a relação disso com a desinformação foram o assunto principal dessa mesa, destacando-se a importância da presença e do diálogo com os territórios e com referências locais para barrar o fluxo de informações falsas ou distorcidas. 

Apresentações artísticas 

Ao longo da atuação do Observatório, as práticas artísticas foram importante instrumento para pautar o tema da desinformação nos territórios e mesmo como ferramenta em seu enfrentamento. Essas experiências não poderiam ficar fora do Seminário.   

Para a abertura, convidamos Kety MC e Monge para um freestyle de rima sobre a desinformação. A plateia foi trazida para a dinâmica, sugerindo temas para as rimas. No segundo dia, tivemos a criação de um painel de grafite com o tema da desinformação, produzido por BS (Irineu Junior), San 97 (Sanderson Gabriel Ferreira Silva) e Poesia (Felipe Fernandes de Carvalho), integrantes do Rima Viva Hip Hop Crew. Encerrando as atividades do Seminário, Joi Gonçalves fez uma apresentação de poesia falada. Poeta de Slam, Joi já havia participado de outras ações do Observatório e trouxe para o Seminário poemas que falavam sobre empoderamento e construção de pertencimento.  

Escuta, participação e modos de enfrentamento em revista 

Com o objetivo de compartilhar, sintetizar e amplificar as iniciativas e ações no enfrentamento da desinformação ao longo desses dois anos, durante o evento foi lançada a revista Observatório Participativo da Desinformação: Escuta, participação e modos de enfrentamento da desinformação.  

Na publicação, reunimos textos e falas que condensam os principais aprendizados da atuação do projeto em seu primeiro biênio de existência, reforçando a importância das parcerias, da ação de referências comunitárias e de pesquisadores.  

Não acreditamos que há uma receita infalível para combater a desinformação, mas sim na junção de várias estratégias e na criatividade potente de quem está nas comunidades para pensar novos caminhos e estratégias. O material traz ainda uma linha do tempo das ações do projeto e um resumo de todas as iniciativas beneficiadas pelo edital Periferia Sem Fake.  

Conclusão 

Reunir dois anos de história e atuação em dois dias de seminário não foi simples. A aposta na construção de um espaço de encontro entre referências, comunidades, pesquisadores, artistas e público interessado no tema, no entanto, segue sendo central para o Observatório Participativo da Desinformação.  

Pensar o enfrentamento territorializado da desinformação nos exige conjugar estratégias diversas, considerar o conhecimento gerado dentro e além da pesquisa acadêmica e do monitoramento de plataformas digitais. O seminário foi uma síntese dos aprendizados e desafios enfrentados pelo Observatório Participativo da Desinformação. Foi também bússola para os próximos passos deste projeto e, esperamos que seja inspiração para muitos outros também.  

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