A disseminação da desinformação é altamente orgânica, pessoal e passional e demanda soluções plurais de enfrentamento, conectadas aos territórios e comunidades onde ela ocorre. Nesta seção, listamos as ações desenvolvidas e apoiadas pelo Observatório Participativo da Desinformação em parcerias com iniciativas já existentes em territórios da RMBH para enfrentar a desinformação.
Iniciativas
PERIFERIA SEM FAKE
O edital Periferia Sem Fake foi lançado em agosto de 2024 pelo Observatório Participativo da Desinformação com o objetivo de selecionar iniciativas locais para o enfrentamento à desinformação. Na primeira chamada do edital, ainda em curso, foram mapeadas 16 iniciativas com diferentes abordagens, estratégias e públicos para lidar com as fake news nos territórios. Trimestralmente, quatro iniciativas são apoiadas com recursos e tutoria para serem implementadas pelos seus proponentes.
Projetos já realizados
Fakes que mudam vidas
O ambiente que tem propiciado o aumento da desinformação em nossas sociedades tem efeitos ainda mais perversos nos contextos escolares, onde crianças e adolescentes ainda em formação são vítimas do uso de fake news e deepfakes como estratégia de bullying, ocasionando sérios problemas para o desenvolvimento pessoal e autoestima. Diante desse problema, a Associação MA de dança, localizada na Pedreira Prado Lopes, Belo Horizonte-MG, coordenada pelo professor de dança Marcos Antônio Alves de Lima, se inscreveu no edital Periferia Sem Fake com o objetivo de tematizar essas questões com os alunos e alunas do ensino fundamental através da dança e do entretenimento. A ação consistiu no desenvolvimento, junto a uma turma de 21 estudantes, de um espetáculo de dança acompanhado de palestras e dinâmicas com o objetivo de conscientizar os estudantes sobre o cuidado necessário para avaliar e ao disseminar informações recebidas sobre outras pessoas. Os 21 estudantes fizeram, junto dos educadores, uma pesquisa de dois meses sobre o tema para a construção do espetáculo e, ao final, foram feitas apresentações de dança em cinco escolas locais.

Circula Libras
O Circula Libras é uma instituição localizada em Ribeirão das Neves-MG, cuja missão é fortalecer e gerar acessibilidade e inclusão na comunidade surda. A partir do edital Periferia Sem Fake, o Instituto chamou a atenção para o fato de que, embora no Brasil haja pouca acessibilidade de informações em LIBRAS sobre políticas públicas, direitos sociais e democracia, o que compromete a plena cidadania de milhões de surdos e surdas no país, há uma circulação ampla de desinformações em LIBRAS produzidas pela extrema-direita. Diante disso, o instituto produziu, com apoio do Observatório, cinco mini documentários em LIBRAS abordando os temas da cidadania, da democracia e da desinformação com o objetivo de promover a acessibilidade e a inclusão, com foco especial na comunidade surda, a partir de materiais informativos e contra-desinformativos acessíveis.
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Conecta Cabana
A circulação da desinformação em territórios periféricos se encontra e se amplifica com um problema histórico das periferias brasileiras: a falta de representatividade e de protagonismo dos sujeitos periféricos em todo o processo de produção de conteúdo, gerando imagens estereotipadas e preconceituosas sobre as favelas. O projeto Conecta Cabana é um portal de jornalismo comunitário feito por moradores da maior favela de Belo Horizonte, a Cabana do Pai Tomás, cujo objetivo é fazer a cobertura dos acontecimentos do território a partir de uma perspectiva dos próprios moradores.
CAMPANHAS
A partir do nosso trabalho de escuta sistemática de lideranças e instituições, o Observatório vem produzindo periodicamente campanhas colaborativas de enfrentamento à desinformação sobre temas específicos identificados como relevantes a partir da combinação de diferentes estratégias online e offline. As campanhas são pensadas e produzidas junto com as lideranças ouvidas no processo de escuta.
O enfrentamento localizado à desinformação eleitoral
O objetivo da campanha foi promover ações de conscientização sobre o processo eleitoral, uma vez que escutamos de uma série de lideranças que a falta de conhecimento sobre o tema é muito alta e os territórios onde moravam acabavam sendo vítimas de muitos oportunistas no período eleitoral em decorrência disso. A partir desse objetivo, produzimos vídeos informativos sobre o tema para as redes sociais e para mandar no whatsapp das lideranças, para que elas reencaminhassem aos moradores. Além disso, produzimos folders com informações simplificadas, voltadas ao público geral e cartilhas com informações mais detalhadas sobre o processo eleitoral , voltadas às lideranças. Os materiais impressos foram distribuídos para 25 lideranças de dez territórios da cidade de Belo Horizonte. Além disso, fizemos quatro rodas de conversa presenciais nos territórios com a proposta de “tira-dúvidas” sobre o processo eleitoral.
Composição da Câmara Municipal Funções do prefeito e do vereador Falsas promessas
O certo pelo nosso teto
Período: maio a setembro/2024
Uma das pautas mais compartilhadas pelas lideranças e entidades com quem conversamos é o acesso à moradia digna, que se relaciona com a garantia de quase todos os demais direitos sociais. Diante disso e da persistência de amplas desinformações sobre o direito à moradia, que frequentemente criminalizam e deslegitimam movimentos organizados para a luta por esse direito, o Observatório desenvolveu a campanha o Certo Pelo Nosso Teto. A campanha, feita em articulação com outras 18 entidades, combinou uma série de ações unificadas pelo objetivo de legitimar as lutas por moradia digna na Região Metropolitana de BH, principalmente junto ao público que menos tem acesso a esse direito. Ao todo, produzimos identidade visual, 33 conteúdos para redes sociais, seis unidades de uma miniexposição sobre o direito à moradia. que foram distribuídas em diferentes territórios, além de 5 cineclubes e um plantão tira-dúvidas sobre o Minha Casa Minha Vida no Morro do Papagaio.
Arrume seu título
Período: abril/2024
Diante das abundantes desinformações sobre o processo eleitoral ocorridas em 2022, que chegaram a motivar a tentativa de golpe no começo de 2023, o Observatório Participativo da Desinformação se propôs a fazer uma campanha para incentivar a participação política e legitimar o processo eleitoral no período de regularização do título de eleitor em 2024, ano de eleições municipais. A campanha foi pensada e produzida junto com a Teia de Criadores, organização dedicada a apoiar produtores de conteúdo em Belo Horizonte e organizar campanhas de promoção da cidadania e de defesa da democracia na cidade. O objetivo da campanha foi incentivar a juventude a tirar o título de eleitor e incentivar a população adulta e também pessoas com deficiência a regularizarem sua documentação e garantirem o direito ao voto. A campanha produziu uma identidade visual, uma série de vídeos tanto com produtores de conteúdo associados à Teia de Criadores, como com lideranças comunitárias, além de contar com a distribuição de panfletos por parte das lideranças parceiras.
Arrume o seu título Com o título de eleitor, a decisão tá na mão Candidates que te representem
DÁ IDEIA
O Dá Ideia foi uma formação com um ano de duração, junto a 12 jovens de quatro territórios da Região Metropolitana de BH, voltada a compreender o problema da desinformação e elaborar ações para enfrentá-la em cada território. O projeto foi uma iniciativa em articulação com as organizações da sociedade civil. Os jovens participantes receberam uma bolsa/ apoio financeiro para participar das atividades.
Ao longo de 12 meses, foram feitos encontros e formações sobre democracia, direitos, segurança de dados, produção de texto, criação de vídeos. Também foram elaborados materiais para as redes sociais, dentre outras ações de enfrentamento à desinformação. Ligados no que circulava em suas comunidades e nos efeitos e consequências da desinformação em cada território, os participantes do Dá Ideia traduziram suas experiências em materiais de contra- desinformação, montando campanhas que dialogavam com as vivências de cada território.